A cidade de Jequié, localizada no interior da Bahia apresentou maior taxa de mortes violentas na Bahia. A estatística foi divulgada, nesta quinta-feira (20), através do anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Os dados indicam, na prática, que a cada 100 mil habitantes a taxa de mortalidade chega a 88,8%.
A situação é agravante já que o município com maior taxa de mortes violentas nem está na lista das 10 maiores cidades baianas, com base no Censo 2022, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por lá, em fevereiro do ano passado, dois jovens de 16 e 26 anos foram mortos em um ataque a tiros, que deixou outras duas pessoas feridas, de 18 e 20 anos, no bairro Pau Ferro. Ninguém foi preso pelos crimes.
Sobre o assunto, solicitamos um posicionamento para a Prefeitura de Jequié e para o Governo do Estado. E estamos no aguardo dos posicionamentos.
Em um maior cenário, Bahia registrou 6.659 mortes violentas intencionais em 2022. Esses dados colocam o estado como líder no ranking nacional. A soma total de mortes violentas intencionais engloba os crimes de homicídios dolosos (incluindo feminicídios, que são homicídios qualificados), lesões corporais que terminam com a morte da vítima e latrocínios, que é quando a vítima é assassinada para que o roubo seja concluído.
Vale pontuar que os dados analisados nesta reportagem são com base no número absoluto de vítimas mortas, e não no número de ocorrências. Exemplo: um triplo homicídio é registrado apenas como uma ocorrência, mas são três pessoas mortas.
Veja abaixo a lista de 20 das 50 cidades mais violentas do país. Dessas, 12 estão na Bahia.
Município | Estado | Taxa de Mortes Violentas |
---|---|---|
Jequié | BA | 88,8 |
Santo Antônio de Jesus | BA | 88,3 |
Simões Filho | BA | 87,4 |
Camaçari | BA | 82,1 |
Cabo de Santo Agostinho | PE | 81,2 |
Sorriso | MT | 70,5 |
Altamira | PA | 70,5 |
Macapá | AP | 70 |
Feira de Santana | BA | 68,5 |
Juazeiro | BA | 68,3 |
Teixeira de Freitas | BA | 66,8 |
Salvador | BA | 66 |
Mossoró | RN | 63,5 |
Ilhéus | BA | 62,1 |
Itaituba | PA | 61,6 |
Itaguaí | RJ | 61,6 |
Queimados | RJ | 61,2 |
Luís Eduardo Magalhães | BA | 56,5 |
Eunápolis | BA | 56,3 |
Santa Rita | PB | 56 |
Redução das estatísticas
A Bahia também foi o que mais matou pessoas em intervenções policiais – seja de agentes em serviço ou fora dele. Esse número saltou de 1.335 em 2021, para 1.464 mortes no último ano. O jovem Marcelo Daniel Ferreira, de 19 anos, faz parte desta conta. Ele foi assassinado na véspera do Natal de 2022, em uma operação da Polícia Militar no Nordeste de Amaralina, importante complexo de bairros de Salvador. A narrativa da PM para o caso foi semelhante a de outras mortes em ações policiais: a corporação alegou ter sido recebida a tiros, e revidou.
Moradores contestaram: o jovem estava se divertindo com a família, quando os PM chegaram atirando em uma viatura. Marcelo foi baleado quatro vezes, passou por duas cirurgias, mas não resistiu aos ferimentos. A investigação foi feita pela Polícia Civil, que nunca deu respostas sobre a situação.
Aumento das lesões com morte
Dentre as tipificações das mortes violentas, os latrocínios foram os únicos que apresentaram queda. Em 2021, a Bahia estava na vice-liderança do país, com 137 mortes – atrás apenas de São Paulo, que registrou 173 pessoas mortas em roubos. No último ano, houve uma queda de 36.5% e o estado passou a ser o quarto maior no volume de latrocínios, caindo para 87 registros – ainda atrás de São Paulo (178 pessoas mortas), Pernambuco (103) e Maranhão (95).
A adolescente Cristal Pacheco foi morta a cerca de um ano, enquanto seguia para a escola a pé com a mãe e a irmã, em Salvador. Duas mulheres abordaram a família e uma delas atirou na garota, que morreu em via pública, aos 15 anos.
Em contrapartida, as lesões corporais que terminaram com a morte das vítimas aumentaram em 14,2%, e colocaram a Bahia entre os três estados de maiores registros: 64 pessoas que, assim como o músico Ciro Henrique Sousa de Oliveira, de 34 anos, foram agredidas até perderem a vida.
Metodologia
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública se baseia em informações fornecidas pelas secretarias de segurança pública estaduais, pelas polícias civis, militares e federal, entre outras fontes oficiais da Segurança Pública.
A publicação é uma ferramenta importante para a promoção da transparência e da prestação de contas na área, contribuindo para a melhoria da qualidade dos dados. Além disso, produz conhecimento, incentiva a avaliação de políticas públicas e promove o debate de novos temas na agenda do setor.
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